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Wednesday, October 15, 2008

Toponímia histórica (2): O projecto de "Carta da ocupação romana do Sul da Lusitânia"

A toponímia desempenha um duplo papel no projecto Carta da ocupação romana do Sul da Lusitânia:

  • Uma das principais fontes de reconstituição do território
  • Um dos principais temas do modelo corográfico do território reconstituído

Carta da ocupação romana do Sul da Lusitânia. Modelo de informação

Este projecto inclui os topónimos existentes na época romana e na Antiguidade Tardia, incluindo os constituídos em épocas pré-romanas. Ver http://imprompto.blogspot.com/2007/01/carta-da-ocupao-romana-do-sul-da.html

Tem um precursor mais antigo, parcialmente obsoleto mas que contém os elementos fundamentais da sua concepção e organização: Ver http://www.arkeotavira.com/alg-romano/carta-romana/MemoriaD.pdf

O projecto Inclui três componentes:

  1. Palimpsesto geográfico (séc. I a.C. a séc. VII d.C.) e respectivos modelos corográficos ajustados às fases históricas de ocupação territorial. A descrição destes modelos não se inclui neste post.
  2. Fases históricas da ocupação territorial romanas e das suas sobrevivências
    1. Conquista. Dominação militar
    2. Guerras Civis. Pacificação e colonização
    3. Alto-Império. Assimilação e Municipalização
    4. Séc. III: Integração e Crise.
    5. Baixo-Império. Dominado. Estatização, dominialização e episcopalização
    6. Pós-Império. Parcelização episcopal e conflitos bárbaros
    7. Domínio Bizantino. Guerra intermitente
    8. Domínio Visigótico
  3. Eventos históricos da ocupação romana com expressão geográfica regional
    - Campanhas militares
    - Evolução administrativa
    - Sinais arqueológicos de instabilidade: abandonos e ocultações monetárias
  4. Quadros e escalas geopolíticas e geoeconómicas: O Ocidente Romano, o Golfo Gaditano, o quadrante Sudoeste da Hispânia

Fontes principais de reconstituição do palimpsesto geográfico

  1. Fisiografia costeira e das zonas interiores alagadas
  2. Fontes literárias, epigráficas e numismáticas greco-romanas
  3. Sítios arqueológicos
  4. Notícias arqueológicas em fontes de todas as épocas
  5. Toponímia em fontes de todas as épocas
  6. Rede viária pré-industrial: síntese de roteiros e cartografias de todas as épocas
  7. Recursos hídricos, mineiros e portuários em contextos geocondicionado milenários
  8. Lugares de culto e de tradição etnográfica em contextos religiosos milenários
  9. Divisões administrativas medievais

Grupos taxionómicos

O processo de reconstituição das formas originais latinizadas dos topónimos produz um nível corográfico específico de toponímia.

Este nível qualifica os topónimos reconstituídos segundo o modo de reconstituição, fiabilidade, eventuais alternativas e dúvidas. As formas reconstituídas são acompanhadas das formas atestadas mais antigas e das formas correntes

A toponímia reconstituída organiza-se por tipos de topónimos que identificam elementos dos grandes grupos taxionómicos da corográfica reconstituída:

  1. Elementos fisiográficos (cabos, baías, rios, montanhas...)
  2. Povoações, estruturas e lugares especializados
  3. Regiões administrativas e zonas ou regiões geográficas
  4. Entidades étnicas geograficamente definidas
  5. Marcadores e descritores de paisagem
  6. Referências de eventos e personalidades
  7. Elementos convencionais e opacos

A toponímia antiga como fonte de reconstituição corográfica dos territórios coevos

Os topónimos desempenham quatro funções principais na reconstituição da corografia do território:

  • A toponímia antiga (coeva ou reconstituída) é um dos elementos corográficos fundamentais da reconstituição do território, correspondendo às designações originais da época de estudo.
  • A raiz etimológica permite, em alguns casos, identificar a época histórico-linguística da formação do topónimo. Fornece então informação determinante sobre a cronologia do povoamento, que complementa (ou substitui) os dados arqueológicos eventualmente existentes. É o caso de topónimos com étimos pré-romanos ou com formas latinas características de determinados períodos.
  • A etiologia, isto é o significado semântico de um termo na época histórico-linguística de estudo (que pode ser distinto do seu significado etimológico na língua original ou numa língua intermédia de onde foi importado) pode revelar o seu valor coronímico, isto é, a classe corográfica do lugar designado, tal como o tipo de povoamento, a função principal ou outra, originadora do topónimo. As designações coevas são igualmente importantes para a identificação de termos pré-latinos ou de proprietários, dedicações religiosas, étnicos, unidades administrativas ou do repertório toponímico da descrição do espaço.

    O tipo corográfico ou a forma de designação pode também contribuir para uma definição cronológica mais rigorosa da ocupação do lugar, quando corresponde a conceitos historicamente bem delimitados.

  • A toponímia pós-romana, incluindo a contemporânea, permite ainda identificar lugares geocondicionado e lugares arqueológicos (topónimos arqueológicos) associáveis com frequência a vestígios romanos. A relação geográficas destes topónimos com outros elementos corográficos, arqueológicos e etnográficos permite resolver por vezes indeterminações de localização, de pontos de passagem ou de funcionalidade antiga.

Análise dos topónimos

A representação cartográfica da toponímia da época romana levanta as seguintes questões:

  1. Validação de topónimos não atestados na sua época linguística. Coloca-se relativamente aos topónimos de fontes intermédias e modernas. A validação depende de um conjunto de regras enunciadas mais adiante.
  2. Reconstituição linguística de topónimos não atestados na sua época linguística. Coloca-se relativamente aos topónimos de fontes intermédias e modernas. Os critérios de reconstituição são filológicos, servindo a contextualização não linguística apenas como indicador ou ponderador entre etimologias alternativas.

Os resultados são hipóteses fundamentadas em normas evolutivas linguisticamente aceites ou atestadas noutros topónimos melhor documentados.

  1. Análise da etiologia corográfica do topónimo na sua forma original, a partir da sua etimologia linguística e significados correntes documentados
    1. Topónimos de línguas pré-romanas. Campo em aberto, limitado ao enunciado de hipóteses apresentadas por especialistas e da sua avaliação extralinguística.
    2. Topónimos gregos pré-romanos
    3. Topónimos latinos e gregos da Época Romana
    4. Topónimos tardo-romanos, latinos tardios e gregos tardios
  2. Localização de topónimos no espaço geográfico. Coloca-se relativamente aos topónimos de fontes antigas e intermédias. Os critérios de localização são toponímicos, históricos, arqueológicos, geográficos, religiosos e etnográficos. Frequentemente não produzem resultados unívocos ou sequer hipóteses sólidas.
  3. Contextualização geográfica, arqueológica e etnográfica da localização, reforçando ou não a hipótese etimológica, o seu significado corográfico e hipótese de localização

A ocorrência destas questões (S) varia conforme a época das fontes de atestação

Análise

Fonte toponímica

Aspecto

Questão

Antiga

Intermédia

Moderna

Linguístico

Validação


S

S

Reconstituição


S

S

Etimologia

S

S

S

Geográfico

Significado corográfico coevo

S

S

S

Localização geográfica

S

S


Contextualização geográfica

S

S

S

Arqueológico

Contextualização arqueológica

S

S

S

Etnográfico

Contextualização etnográfica

S

S

S

Localização geográfica segundo o tipo de fontes toponímicas

Problemas mais habituais na sua análise

Fontes Escritas


As fontes antigas e intermédias têm problemas de transmissão pela inclusão de erros no processo de cópia ao longo dos séculos, tendo sobrevivido geralmente apenas versões muito posteriores ao original.

As medidas quantitativas nestas fontes (coordenadas, distâncias e orientações geográficas) estão particularmente sujeitas a graves erros que podem impossibilitar a sua utilização. Exigem sempre edições críticas que nem sempre conseguem reconstituir o original.

As fontes intermédias e modernas têm também o sério problema dos topónimos antigos sofrerem um processo de transformação linguística milenária, que exige um processo complexo e especializado de validação, que frequentemente não produz resultados aceitáveis ou concludentes.

Históricas

Factos históricos com expressão espacial

Presença de personagens.

Etnográficas

Descrição de factos religiosos, crenças, curiosidades.

Corográficas

Descrição informal do território, dos seus elementos e limites.

Arrolamentos de lugares, agrupados segundo características.

Definição de região por enumeração dos seus elementos internos.

Demarcação de fronteiras ou limites por enumeração sequencial de marcas corográficas.

Idem, por definição de confrontações ou limites territoriais, geralmente quatro: territórios exteriores confinantes ou marcas corográficas ou territórios inclusos extremos.

Itinerários

Enumeração sequencial das etapas de percursos terrestres e navais, com ou sem definição de distâncias.

Itinerários gráficos

Cartogramas lineares esquemáticos, com linhas de itinerários e etapas eventualmente qualificadas por simbolismo gráfico e topónimos

Geográficas

Listas de topónimos e respectivas coordenadas geográficas.

Cartográficas

Mapas com localizações toponímicas.

Toponímicas

Nomes de lugar em documentação diversa.

Fontes Epigráficas


Estruturas coevas transportáveis. O local de achamento pode ser desconhecido ou impreciso. O local identificado de achamento pode não ser o sítio original da estrutura (s.i.e.). Os topónimos da inscrição podem não corresponder ao s.i.e.

Cívicas

Cidade ou comunidade cívica.

Étnicas

Povo com identidade, que pode ser distante do lugar geográfico do s.i.e.

Origo

Local de origem do individuo referido na inscrição, que é geralmente distante do s.i.e.

Viária

Ponto de passagem correspondente ao s.i.e. ou identificação de um destino. Eventual identificação do Imperador ou magistrado celebrados e da milha romana ordinal do percurso.

Fronteiriça e cadastral

Ponto ou linha de demarcação de entidade territorial no s.i.e. Eventual identificação da entidade territorial e da distância ao centro urbano.

Fontes numismáticas


Objectos coevos, móveis e naturalmente sujeitos a dispersões geográficas importantes, pelo que os lugares de achamento podem ser múltiplos e não corresponderem à comunidade emissora identifica na inscrição toponímica.

Cívica

Designação da comunidade.

Política

Onomástica do magistrado ou comandante responsável pela emissão, reveladora de ligações clientelares ou militares a famílias e partidos tardo-republicanos.

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