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Friday, November 04, 2005

IPSES

Reconstituição da Ria de Alvor na Antiguidade e da forma urbana de Ipses. (Clique para aumentar).


Ipses foi identificado com Alvor em 1987 (Teresa Júdice Gamito, Vila Velha, Alvor" in Informação Arqueológica 9 (1987) , Lisboa 1994, p. 119-120).
O seu nome original seria *Ipsis, (António Marques de Faria, "Onomástica paleo-hispânica: revisão de algumas leituras e interpretações" in Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 3, número 1 (2000), , Lisboa 2000, p. 134) romanizado como Ipsa.

Tanto quanto se saiba, Ipses/Ipsa goza do privilégio de ser um dos dois únicos povoados do Algarve (juntamente com Kilibe/Cilpes) referidos na Geografia de Artemidoro de Éfeso, escrita cerca de 100 a.C.
A sua localização e os temas da sua cunhagem monetária (Hércules/Melqart e Vénus Marítima/Astarté) permitem defini-lo como um porto-santuário, escala pertencente à rota de navegação atlântica de Gadir/Gades.
800 anos mais tarde, é ainda o único sítio do Algarve identificado como limite da diocese visigótica de Ossonoba, no documento conhecido como Divisio Wambae.

È notável o seu urbanismo de traça romana, constituído por um povoado hipodâmico, o oppidum indígena e um bairro portuário intermédio, onde se localizaria o templo primitivo, de dedicação marítima.
A ocupação romana inicial (finais séc. II a.C.) corresponderia a uma base militar naval.

Quase nada se sabe de Ipses Alto-Imperial. A forma urbana que chegou até nós poderá ter a sua origem na fase de apogeu urbanístico iniciada por Augusto. Numa zona de sismicidade tão intensa e tendo em conta os paralelos de Ossonoba e Balsa, é provável que se trate de um programa urbanístico posterior a Cláudio, quiçá bastante posterior.
A presença de uma numerosa ocupação romana rural na antiga orla estuarina interior e a posição portuária de Ipses, no termo da via de acesso à Serra de Monchique e ao seu balneário termal sacralizado, revelam uma situação de capitalidade local, reforçada pelo carácter eminentemente urbano do assentamento. A presença e sobrevivência tardia da luxuosa villa da Abicada, então no vértice de uma cunha estuarina a Norte de Alvor, sugere a residência de uma personalidade oficial importante associada ao estatuto de Ipses e não apenas uma mera villa de possessor.
A ausência de Ipses nas listas de Plínio e Ptolomeu pode significar apenas uma omissão ou então a confirmação do seu estatuto dependente, de vicus portuário sob provável administração directa provincial e, portanto, excluído das zonas de administração municipal.

Sobre a Antiguidade Tardia, entre os sécs. V e VIII, também nada se sabe. Podemos igualmente especular que o abandono da zona hipodâmica se poderá ter produzido nesta época, sucedendo-se uma redução do habitat à zona do velho oppidum.
A identificação de Ipsa como limite ocidental da diocese de Ossonoba, no séc. VII, deve implicar a sua existência como paroecia, centralizando um vasto território que incluía o Cabo de São Vicente e Monchique. Ipsa possuiria assim uma basílica páleo-cristã com uma certa importância, no lugar do antigo templo pagão.

Sobre Ipses/Alvor ver
http://www.arqueotavira.com/Estudos/Alvor-2005-Poster-A0R.pdf (PDF v.6, 1.5 MB).

2 comments:

  1. Interessante e de grande relevância este post, uma vez que são dos poucos que se encontram na net sobre tal tema, para além do que vem no iberianet, que me parece vir da memsa fonte. Quanto à Divisio Wambae, existe o texto integral na net? abraço

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  2. Obrigado Kiko.
    Creio que o texto integral da Divisio Wambae não existe na net. Sobre a zona a Sul do Tejo do actual território português, o texto original está em http://imprompto.blogspot.com/2006/07/dioceses-visigticas-do-antigo_20.html

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